Rodando na minha cabeça, esta semana, duas notícias sobre arte e mercado que me chamaram a atenção.
A primeira dizia respeito a uma celebridade mundial do mundo das artes visuais que se associou a uma conhecida griffe de acessórios exclusivos.
A segunda, uma matéria do Blog de da excelente Sheyla Lerner sobre um conhecido “dandy” da crítica e curadoria internacional. No fundo, duas manifestações di-abólicas do mesmo fenômeno: uso da arte e seu mundo (artistas, galerias, crítica, museus, instituições) para a obtenção de excedentes de mais valia, funck ostentação do mundo das artes visuais (comparação pertinente até no conceito).
Mas, onde exatamente reside o limite ético e estético entre a participação criativa do artista na indústria e na customização de produtos de consumo e meios de comunicação e da usurpação dessa possibilidade pelo mercado?
Em si, a arte aplicada e a utilização de do merchansiding são atividades altamente desejáveis e salutares à atividade artística que é utilizada pela atividade negativa da valorização da decadência de valores que permite contaminar a arte com o desdém pela condição humana, pelo esforço, pelo estudo, tornando-a abjeta.
Esta intenção parece clara tanto na utilização pelo dito artista de obras de grande mestres da pintura pra servir de pano de fundo das marcas da bolsa e do artista, quanto na cotação monetárias dos modelitos apresentados pelo curador famoso pela ostentação.
Tudo isso me fez lembrar de minha última exposição coletiva de grande porte, em 2003.
Aldemir Martins, Maria Bonomi, Claudio Tozzi e eu fomos incumbidos por uma conhecida indústria de torrefação de café a apresentar um trabalho que teria o destino de aplicação industrial em canecas de café que seriam distribuídas distribuídas graciosamente numa promoção especial que distribuiu cerca de 100.000 canecas.
As obras originais integram o acervo da Empresa.
Fizemos uma exposição cujas obras foram adquiridas como múltiplo e entraram no convívio diário de milhares de pessoas no país inteiro e isso foi muito gratificante para todas as partes: patrocinador, artistas, produtores do brinde e consumidores.
A diferença crucial do caso mencionado acima é que não era, claro, nem exposição excessiva, nem apologia do consumo elitista que permitem a ideologia da exclusão e da dominação do homem pelo homem, cuja presença torna impossível a manifestação da arte, que para existir precisa de liberdade além da equanimidade e da sensibilidade para tocar o outro, sob pena de se tornar apenas um discurso intestino de uma sociedade autista, ao invés de um discurso de artista.
Creio que esta seja a diferença pela experiência vivida e adquirida.
Lindo trabalho!
Grato Kalanit!